Cantando e Brincando com Vovó Linda - Vol. 1

   Meu contato com este repertório se deu pela primeira vez no ano de 1967, quando adentrei os caminhos da Educação Musical Infantil. Naquela ocasião comecei a coletar um cancioneiro de apoio à minha prática, extraído em sua maioria de uma apostila preparada pela Secretaria de Educação e Cultura do Município do antigo Estado da Guanabara e distribuída mensalmente para as coordenadorias das escolas municipais. Cantei e brinquei com muitas crianças da Escola Municipal Guatemala – 1º Centro de Educação Experimental do INEP/MEC no Rio de Janeiro, fundado pelo insigne educador Anísio Teixeira. Aquele trabalho deu vez à pesquisadora e me levou para outros caminhos, mas fui imensamente feliz quando o desenvolvi. Guardo ricas lembranças, pois pude conviver com muitos e diferentes rostinhos, alegres e felizes nas aulas de música.

   Hoje, passados aproximadamente 45 anos de afastamento de minhas atividades na Educação Musical Infantil, vejo renascer uma centelha de luz, amor  e esperança na retomada daquele caminho, em virtude do nascimento de meu neto José. Inicialmente, queria apenas preparar um CD para o desfrute com ele, mas essa experiência foi ganhando vulto e chegou até aqui. Pensava muito em partilhar esse material com outras crianças e professores de Educação Musical Infantil.

   Liddy Chiaffarelli Mignone - com sua recreação musical - foi uma grande fonte de inspiração! Brinquedos cantados, jogos, povoaram o meu imaginário, na busca de selecionar as canções que melhor propiciassem a auto expressão através dos movimentos rítmicos e da alegria de cantar e brincar.

   Para o meu neto José, seus amiguinhos e todas as crianças e educadores musicais infantis do Brasil.

Vovó Linda - SP, 11/05/18

Cantando e Brincando com Vovó Linda - Vol. 2

    Esta é uma coletânea de canções brasileiras organizada para o deleite de bebês e crianças. Traz para o cotidiano a beleza e o prazer de cantar. Na sua grande maioria as letras falam de animais. Ajudam os adultos a lidar com as crianças de forma amorosa e divertida. Muitas canções podem funcionar como acalanto, jogos musicais, brincadeiras, cantiga de roda. Não faltam ritmos de balanço, gostosos para se dançar, melodias cômicas e poéticas, letras que ambientam situações de fábulas e histórias infantis. Na seleção a autora limitou-se à música folclórica, notória pela simplicidade, clareza e sobriedade. O bom gosto das escolhas garante um passeio encantado pelo mundo imaginário da criança.

    Esta é uma obra nascida da própria vida, quando a professora Ermelinda, ao tornar-se avó, descobriu a doce travessura de brincar de música com o netinho. Arrebatou-a a magia do recíproco estímulo rumo às douradas esferas do alvorecer da existência. Foi quando se tornou Vovó-Linda. A voz aguda da Vovó-Linda aproxima-se do registro vocal infantil incentivando a identificação e imitação do netinho, enquanto o canto a meia voz assegura aproximação e intimidade. Ao conversar com o bebê, o adulto é tomado pelo impulso de retornar a seu passado distante, e deliberadamente se infantiliza, adota uma voz em falsete, um certo dengo nos gestos, maneirices brincalhonas e ingênuas. É o que encontramos na interpretação da maioria das canções, a exemplo das faixas 9 e 14. Por outro lado, as melodias de maior enlevo poético inspiram o fôlego de um voo vocal mais amplo, compatível com a densidade lírica do todo. É o caso das faixas 18 e 24. Mas em tudo está presente uma doce leveza. Inclusive nos arranjos, que além de vestir as melodias com delicadeza de mestre, intensificam sua brasilidade com os timbres de viola sertaneja, cavaquinho e violão.

    Essa coletânea chega na hora certa. No momento em que a neurociência ressalta de modo enfático a importância do canto para o desenvolvimento da criança, esse ato de amor da Vovó-Linda mostra o prosseguimento da tradição oral fora do ensino formal da música e traz, com o enriquecimento do repertório infantil do país, uma contribuição cultural e educativa.    

Hélio Sena

RJ, 2/8/18.

Cantando e Brincando com Vovó Linda - Vol. 3

    Com o volume intitulado Acalantos do Brasil e do mundo, finalizamos o conjunto de três CDs do projeto Cantando e brincando com Vovó Linda. O tema sempre mereceu o nosso carinho, a tal ponto que sua importância musical e afetiva supera, talvez, toda e qualquer análise de mérito. Sua abordagem se presentificou ao longo de várias etapas.

    Adentramos o universo dos acalantos como professora e pesquisadora, trabalhando com nomes representativos para o estudo do tema, como Barbosa Rodrigues, Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Oneyda Alvarenga, Pereira da Costa, Renato de Almeida e Veríssimo de Mello.
Numa segunda etapa fomos levados aos criadores, através do rico repertório oriundo da tradição oral brasileira. Passamos por autores referenciais da música clássica nacional e internacional, bem como dos músicos populares. Na música clássica ressaltamos as contribuições de Brahms, Britten, Chopin, Liszt, Mozart, Schubert, Luciano Gallet e Santoro; na música popular, fomos atraídos por Chico Buarque de Holanda, Dorival Caymmi, John Lennon, Joyce e Nando Reis, dentre outros.

    Mais adiante, em 2017, o espetáculo Makuru, um musical de Ninar, de José Mauro Brant e Tim Rescala, apresentado no Espaço Furnas do Rio de Janeiro, tocou-nos tão profundamente que o consideramos um bálsamo para a alma. Felizmente, o áudio desse musical foi disponibilizado no Spotify com o nome de Makuru.

    Em outro momento, nos envolvemos com a obra de Bia Bedran, em nossa opinião a papisa da canção infantil através de CDs. Seu CD Acalantos, com excelentes doses de bom gosto e qualidade artística, estão à nossa disposição para embalar nossos pequenos.
O passo seguinte nos levou ao trabalho da professora e pesquisadora gaúcha Cristina Rolim Wolffenbüttel, intitulado As mais belas e tradicionais cantigas de ninar de todo o mundo, que talvez seja o mais completo recolho sobre o assunto. Consiste no fruto de um projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que lhe rendeu o prêmio de Jovem Pesquisador em 1988, mereceu edição de livro em 1995 (Editora Magister, de Porto Alegre), e transformou-se em uma referência para os estudiosos do assunto.

    A mola propulsora para a idealização dos três volumes foi no entanto o fato de me tornar avó pela primeira vez em 2017 – sou avó do José – e agora, em 2020 - também avó de Heleno. Não queria duplicar no volume 3 o repertório muito bem trabalhado por meus colegas. Foi então que me voltei para os Acalantos do Brasil e do mundo. A busca do repertório começou junto aos colegas, ex-alunos e amigos. Seus nomes encontram-se nomeados nas informações pertinentes a cada faixa, ora mencionados por terem me ajudado a cantar em tantos idiomas estranhos ao meu de origem. É que minha intenção jamais foi a de cantar como um nativo mas, simplesmente mostrar, através do sotaque estrangeiro, a internacionalidade do cultivo musical. A eles todos vão a minha imensa gratidão e meu carinho.

    Por último, gostaria de convidar todos os papais, vovôs, titios e educadores musicais a embarcar na ideia de embalar e abraçar mais as nossas crianças. Porque “a cantiga é uma arma”, frase sem autoria expressa que encontramos em nossa pesquisa. Então, façamos sim, delas uma arma de amor e união entre as pessoas e os povos.
Para meus netos José e Heleno e todas as crianças do mundo com muito carinho e a firme esperança em um mundo melhor.

Vovó Linda

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